sábado, 17 de maio de 2014

Os prós e contras do Rio $urreal

Criada no dia 17 de janeiro de 2014, a página do Facebook 'Rio $urreal - NÃO PAGUE' soma hoje mais de 218 mil seguidores. A ideia dos criadores foi tão sensacional que, em apenas cinco dias, a página já tinha mais de 105 mil adeptos interessados em compartilhar denúncias de preços abusivos na cidade. Os participantes propõem o boicote a produtos e serviços que custam muito acima do usual. 

Capa antiga do Rio $urreal: hilária! hahahahaha!

Projetos como esse só mostram o quanto que o Custo Brasil está elevado. Realmente, estamos sentindo na pele (ou no bolso) o quanto está difícil morar no país. As coisas pioram quando o assunto é Rio de Janeiro, uma das sedes da Copa do Mundo 2014 e sede das Olimpíadas de 2016. Simplesmente TUDO aqui na cidade está mais caro, muito mais do que em qualquer outra cidade do Brasil. Do pão francês ao almoço de todo dia. Da camisa ao terno. Da lata de tinta ao imóvel. Não há um único item que tenha sofrido um belo reajuste nos últimos 12 meses. Obviamente, sempre vem algum 'espertinho' (para não dizer filha da ...) com a ganância de lucrar e jogar o custo lá pra cima.

Voltando a falar sobre o Rio $urreal. O projeto criou tanta força nas redes sociais que alguns empresários já começaram a rever seus conceitos. Afinal de contas, explorar o cidadão (que já ganha pouco) com preços abusivos é muita cara de pau. Por exemplo, cobrar um coco gelado por R$ 6,00, água sem gás por R$ 5,00, 15 minutos em estacionamento de shopping por R$ 12,00 ou R$ 40,00 num saco de pipoca (sim, é isso mesmo que você leu). Isso sem contar com a campanha Jarra d’Água, que conclama bares e restaurantes a oferecer água filtrada aos seus clientes (se bem que isso já era determinado pela Lei 2.424/1995, só que, como já era de se esperar aqui no Brasil, não é cumprida).

Capa atual do Rio $urreal: 215 mil seguidores em 3 meses é MUITA gente!

Como já comentei com alguns amigos, sempre bato na tecla que este projeto poderia ser bem mais eficaz, mesmo com tantas conquistas já alcançadas. 

1- Colaborações

O conceito primordial da página é compartilhar as reclamações e absurdos para que mais ninguém caia em armadilhas de preços abusivos. Entretanto, é complicado publicar como abusivo algo que não existe registro fotográfico. Por exemplo, batata frita por R$ 30,00 é caro? DEPENDE! Ninguém viu o tamanho da porção, se vem com algum outro complemento (queijo, linguiça, bacon etc). 

2- Diferença entre regiões

Inevitável também lembrar que cada região, isso em qualquer lugar do mundo, tem custos diferenciados. Não há como uma loja localizada no subúrbio carioca ter preços exorbitantes pois os custos para se manter é menor. Nesta mesma analogia, lojas localizadas na zona sul são 'obrigadas' a ter um preço maior para sobreviver. E pior: nada garante que a qualidade dos produtos oferecidos em lugares mais baratos seja igual ou superior aos mais caros.

Como gosto é totalmente subjetivo, a ojeriza ou indicação de um local somente pelo preço é válido sim. Entretanto, ser o único item a ser considerado 'surreal'. Novamente utilizarei o conceito da batata frita: pelo mesmo preço, este petisco serve mais pessoas em um bar na Praça Vanhargem se compararmos com outro bar na Barão da Torre (Ipanema), só que a qualidade do primeiro é pior.

A mesma analogia também pode ser aplicada para lojas de rua e de shopping: o custo de manter-se em um shopping center é infinitamente superior. Vejo isso claramente em lojas de bebidas especiais e de miniaturas.

3- Bairros mais citados

Isso me incomoda bastante. Com receio de minha leitura estar seletiva e observar somente o que desperta meu interesse, resolvi fazer uma classificação em algumas postagens da página. Utilizei algumas regras para tentar tornar a minha análise a mais honesta possível. 

Primeiramente, a colaboração do leitor tem que ter local definido, ou seja, estabelecimento e bairro. Outras restrições foram para as postagens da Páscoa (sempre são polêmicas e já até postei no meu Facebook o desrespeito ao consumidor), estacionamentos (shopping é obra do capiroto, sério...), compras pela internet e serviços.

Das 32 postagens realizadas, duas são de Niterói, sendo uma delas a mais inteligente publicada na curta história da página. Como o leitor sabia exatamente os seus direitos, foi até a administração do Shopping Bay Market pedir a nota fiscal para utilizar o banheiro, já que eles cobravam R$ 0,70. É claro que ele não pagou, pois isso é uma cobrança ilegal.

Das outras 30 restantes, a única postagem de um estabelecimento do Centro é a mais mítica: um leitor reclamando que um mate custava mais que um refrigerante (R$ 6,50 vs R$ 4,50), só que para ele é totalmente aceitável pagar R$ 42,00 em um filé de frango ou R$ 102,00 em uma costela. É aí que entra a minha primeira crítica, já que sem fotos para analisar, fica difícil saber se é realmente imperdível essa costela (minha opinião: não vale isso tudo, pois já tive a curiosidade de dividir com uma pessoa).

Fonte: Rio $urreal - NÃO PAGUE

Agora, o que me causa espanto é a quantidade de contribuições de moradores e/ou frequentadores Zona Sul. No total, são quinze postagens, ou seja, 50% das contribuições da página. Neste caso, é inevitável pensar em algumas perguntas:
  • Comer e comprar no Centro é tão barato assim?
  • Os preços nas outras regiões estão mais baratos?
  • As reclamações só partem de quem não está acostumado a pagar aquele valor em um determinado produto?
  • Os moradores e/ou frequentadores de outras regiões estão acostumados com valores mais baratos ou conformados em pagar mais caro?
  • Os moradores e/ou frequentadores da Zona Sul estão cansados de pagar mais caro?
  • Os moradores e/ou frequentadores da Zona Sul tem mais consciência do valor do dinheiro?
Ah sim, as outras postagens estão concentradas na Zona Norte (oito) e Barra da Tijuca (cinco). Não sei se o número de contribuições que eles recebem via email ou por mensagem corresponde ao que pesquisei, mas seria interessante publicar mais casos de outros lugares. Afinal de contas, tudo está muito caro.

4- Fast food

Outro ponto que acho incrível é o 'esquecimento' de fast foods na lista de reclamações. Por que não reclamarmos do preço do McDonalds, já que temos o 5º Big Mac mais caro do mundo? Faço minhas análises dos Favoritos McDonalds porque gosto de comer por lá, mas acho um absurdo pagar R$ 24,50 em um sanduíche, um punhado de batata e refrigerante.

Opa, então quer dizer que pago caro, o sanduíche não vem igual ao da foto (obrigado imagem meramente ilustrativa) e não deixo de ir porque eu gosto?

Talvez isso explique algumas perguntas ditas anteriormente...

5- Pesquisar é a alma do negócio

Consumidor esperto sempre vai em busca do menor preço. Afinal de contas, a tabelinha da SUNAB não existe mais. Se você quer um produto e não quer pesquisar por qualquer motivo, ou você argumenta com o dono do estabelecimento que seu preço é abusivo ou pague sem reclamar. Você tem o poder de escolha. Imagine você no verão carioca e com sede de água. Não adianta você comprar uma garrafa por R$ 5,00 em um restaurante se daqui a um quarteirão você encontra um posto de gasolina que vende o mesmo produto 40% mais barato. 

É aí que entra a última crítica: das 32 postagens verificadas, apenas em duas os leitores pesquisaram uma solução melhor (uma do mecânico malandro e outra de um remédio delivery às 5 da manhã).


Mesmo com essas críticas (que eu julgo mais como sugestões), digo e afirmo: meus parabéns aos jovens que criaram a 'Rio $urreal - NÃO PAGUE'. Quanto mais gente colaborar, mostrando como o custo de morar no Rio de Janeiro está altíssimo, é melhor para todos nós. 

2 comentários:

Newton Pessoa disse...

É importante notar que aqui a política tributária sempre foi focada no consumo e nos EUA no patrimônio. O fato do cidadão norte-americano pagar pouco imposto ao comprar uma camisa da Tommy não significa que ele pague pouco imposto, pois o imposto está sendo cobrado em outros momentos, como o pagamento de dividendos ao acionista, que no Brasil é isento (0% de imposto) e lá é tributado, mas não lembro a taxa.

Unknown disse...

É mano, não está fácil conviver com preços tão surreais. Cheguei a curtir a página, mas o flood era tamanho e um ou dois dias depois, "descurti". Mas não exatamente pela quantidade de postagens, mas pelo tipo de reclamação. Para isso me coloquei dos dois lados, o do consumidor, que sou diga-se de passagem, e do comerciante. Do lado do consumidor, é revoltante que se pratiquem preços como vemos por aí. Trabalhamos na Urca e sabemos o quanto custa o almoço de todo dia. Não me venha com essa de que o custo é elevado, porque se eu bebo uma cerveja na zona sul a R$10,00, não é porque o custo é alto, porque se eu compro a mesma cerveja num supermercado do mesmo bairro não pago 40% desse valor. Ok, existe a energia elétrica pra gelar, o garçom, etc, mas não justifica agregar tamanho valor ao produto. Mas como comerciante, eu cobro os R$10 porque eu quero atingir um público alvo. Quem senta em uma de minhas mesas, sabe que vai ter um serviço diferenciado (no entanto muitas vezes nem é diferenciado, é só caro mesmo). Eu cobro a minha vista, meu conforto e tal.
Então antes de reclamar de como o Rio está caro, eu procuro alternativas para gastar menos. Não preciso ir tomar cerveja na mureta da Urca, posso passar no mercado e comprar pelo mesmo preço uma breja gourmet.
Pra mim a página tinha até um objetivo bem bacana, mas só se tornou um oráculo de reclamações.