No fim da luta, todo mundo se perguntou: que po**a foi essa? O que aconteceu? Será que o campeão foi muito soberbo? Será que presenciamos o surgimento de um novo fenômeno no MMA? Será que a luta foi comprada?
Depois de ouvir o pessoal do Canal Combate esbravejar veementemente sobre a conduta que o brasileiro teve no ringue, nem quis ver a coletiva depois da luta, de tão chateado que estava. Entretanto, na manhã do domingo, digeri o arrependimento de ter ficado acordado até tarde e pensei com mais calma sobre a derrota de Anderson Silva.
A começar pelo próprio brasileiro. O paranaense começou sua carreira no MMA em 1997. Nessa época, o UFC já estava em sua 12ª edição e contava com nomes como Marco Ruas, Mark Coleman, Don Frye, além de dois jovens bem abusados: Vitor Belfort e Tito Ortiz. Admito que só fui tomar conhecimento da organização após ver uma fita de vídeo cassete numa locadora lá do Rocha, antigo bairro que morei aqui na Zona Norte do Rio de Janeiro. Adolescente, com PN na cabeça, ao ver uma fita VHS com o título "There are no rules!", já pensa merda: Vai ser tiro, granada e bomba para todos os lados. A cada fita que chegava, reuníamos a galera para ver lutas pra lá de interessantes, com lutadores das mais diversas artes marciais, cada um com sua indumentária. Como Chris Weidman é dois anos mais novo do que eu, talvez o primeiro contato dele com o MMA tenha sido justamente assistindo esses vídeos ou jogando PrideFC, no PS2.
Admito que não acompanhei a carreira de Anderson Silva antes dele entrar no UFC, com exceção da luta dele contra Carlos Newton no Pride. No UFC, a primeira luta que vi foi justamente a que ele conquistou o cinturão, após deixar o nariz de Rich "Ace" Franklin irreconhecível. Desde então, pude acompanhar todas as defesas de cinturão e as lutas que ele se aventurava a fazer nos meio-pesados. Que fique bem claro: ele SEMPRE usou sua esquiva para destruir mentalmente seus adversários. Agora, desde que conquistou o cinturão dos médios do UFC, NUNCA menosprezou o oponente, como fez no último domingo, salvo em três situações: contra o desafeto Demian Maia, Yushin Okami (último a derrotar o brasileiro) e Stephan Bonnar ("ressuscitando" o aposentado para salvar o card no RJ). Sinceramente, não vi essa tentativa de humilhação contra o H Bomb de Dan Henderson, nas duas lutas contra Sonnen (sejamos francos, aquele triângulo foi de um vacilo sem tamanho do americano) e Vitor Belford (ele achou aquele chute no queixo).
Weidman, antes da luta deste sábado, tinha um cartel de 9-0 e já tinha despachado Demian Maia e Mark Muñoz antes de enfrentar Anderson Silva. Aliás, Mark Muñoz foi uma vítima indireta da língua de Chael Sonnen: ele seria o próximo adversário do brasileiro, mas de tanto o americano encher o saco da organização (e da expectativa do evento gerar bastante lucro) para uma revanche. Sendo assim, sua oportunidade estava ligada a uma condição: ele seria o próximo desafiante ao título, desde que vencesse Chris Weidman. Muñoz perdeu a luta, se machucou posteriormente em treinamentos, entrou em depressão, teve que perder mais de 30kg para lutar e venceu de forma incontestável seu adversário nesse sábado, o mesmo em que Weidman venceu Silva. Que ironia do destino...
Voltando a falar sobre Weidman. Um lutador invicto em qualquer organização de artes marciais deve ser respeitado. O americano tem golpes contundentes em pé e uma boa base de luta no chão. Anderson Silva deveria ter respeitado mais. O resultado disso, aliado ao fato de Weidman não ter entrado no jogo mental do brasileiro, foi aquele belo cruzado de esquerda que o deixou de olhos virados.
Mas, de todos os envolvidos no UFC, quem está respirando aliviado é Dana White. Como toda luta de Anderson Silva, foi mais um sucesso de bilheteria e de vendas no PPV. Além disso, ganhou a melhor dor de cabeça que alguém poderia ter, que é o fim de uma dinastia, que é muito ruim em qualquer evento esportivo. A categoria dos médios estava estagnada. Ninguém queria ir pra lá, porque o campeão era imbatível. E olha que esse efeito pode acontecer nos meio pesados, até que alguém derrote Jon Jones...
É claro que muitos pensaram que a luta foi uma armação. Só que dois pontos fazem com que esta teoria esteja totalmente errada: 1- o tal contrato de 10 lutas que Anderson Silva assinou com o UFC e; 2- a forma com que ele perdeu, já que ele tentou humilhar Weidman e acabou beijando a lona. Mesmo que Silva só faça superlutas para fechar seu contrato ou invente algo diferente, como lugar com 6 anões ao mesmo tempo, ou tentar representar cenas antológicas, como Daniel San em Karatê Kid ou Frank Dux em O Grande Dragão Branco, dificilmente terá a mesma aceitação do público. Sua soberba em cima do ringue mostrou um Anderson Silva que alguns atletas sempre comentavam, mas nunca foram ouvidos. Hoje, todo mundo viu quem é esse Anderson Silva e ninguém gostou. Claro que tudo que ele conquistou não será apagado, o cara é fera e é o melhor lutador de MMA de todos os tempos. Mas, infelizmente, sua imagem saiu arranhada depois da luta.
A tampa do caixão foi a declaração dele após a luta. Sinceramente, como a categoria já tem um histórico gigantesco de reencontros, falar que vai se dedicar a família, não quer pedir revanche e só vai cumprir o contrato é de um absurdo sem tamanho.
Sendo assim, falar que tudo isso se tratou de armação é desconhecer o esporte, a soberba de Anderson Silva em suas lutas e a formação dos cards do evento.
O que vimos no último sábado não foi Chris Weidman vencer Anderson Silva. Assistimos a grande derrota do brasileiro, que perdeu muito mais do que uma simples luta.
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